A evolução do debate sobre políticas culturais que aconteceu em Santa Catarina nos últimos anos, comprovada inclusive por meio da realização de uma serie de conferências municipais e intermunicipais pelas diversas regiões do estado, pode ser creditada, sim, ao amadurecimento da comunidade cultural. Mas é necessário comentar que nesse processo a sociedade civil “perdeu” atores importantes, que em algumas cidade passaram a ocupar cargos públicos em áreas ligadas à cultura.

Gilson considera normal a crença de que principalmente nestas cidades onde os gestores da cultura vieram dos movimentos, as conquistas vão acontecer naturalmente, mas segundo ele, ao contrário disso, o tamanho e a velocidade das conquistas será proporcional à mobilização social.

Gilson aponta dois outros fatores como primordiais para a força dos debates no interior, envolvendo cidades que nunca haviam se mobilizado: a atuação de Réa Sílvia, consultora da UNESCO a serviço do MinC, que trabalha diretamente com os municípios e com as associações de municípios de SC, e a criação e articulação do CONGESC – Conselho de Gestores Municipais de Cultura de Santa Catarina – , que tem sistematicamente mobilizado as cidades em torno da aplicação das políticas públicas da cultura. “Para ter um indicador do trabalho da Réa, por exemplo, basta comparar o número de cidade que aderiram ao SNC a partir do período em que ela começou a trabalhar. E o CONGESC atua por meio das associações de município como a AMURES, na Serra, a AMPLASC no Planalto Sul, entre outras. Isso foi e é fundamental para a descentralização das discussões e da aplicação de recursos”, afirma.
Por conta da centralização é que vários municípios experimentaram uma espécie de “amortecimento” do setor cultural, que tem reflexos e consequências difíceis de se reverter, como explica Leone. Para ele, até em algumas cidades do interior onde existe recursos para a cultura, observa-se a concentração em pequenos grupos ou poucas iniciativas. “Não será fácil vencer esse processo histórico de centralização mas é um processo sem volta. A cada ano que passa mais e mais artistas, gestores e agentes culturais tornam-se conscientes e passam a desejar e a lutar por uma distribuição mais equânime e democrática dos recursos e das ações culturais”, diz.
Pesam nesse processo o reconhecimento da cultura nas dimensões simbólica, cidadã e econômica, para além das belas artes, mas sem perder sua essência como um fim em si mesma, conforme opina Gilson. “Essa transformação é lenta e gradativa, mas está se disseminado visivelmente e acontecendo também porque é impulsionada pela ampliação do acesso à internet e das novas formas de criação e consumo da cultura”, conclui.