Taiko: A cultura japonesa pulsa em Santa Catarina

O som do Taiko (tambor japonês) lembra as batidas do coração, numa melodia contínua e abafada que ao mesmo tempo que acalma, envolve, conquista e energiza a quem assiste as apresentações. E não é por acaso!
“Bater o tambor até que é fácil, mas tocar e fazer surgir a “alma” do Taiko, é para poucos”, afirma Luiz Fernando Böhm, um típico brasileiro, meio alemão e meio italiano, que vive em Joinville e é o subcoordenador do Ponto de Cultura Difusão dos Tambores Japoneses (Joinville), que tem como proponente a Federação das Associações Nikkeis de Santa Catarina, entidade que faz a união entre várias associações japonesas do estado.
O grupo começou a promover aulas de Taiko em 2008, quando por intermédio de Takeo Tamaki e Mario Sato, membros da comunidade Nikkei em Santa Catarina, o governo japonês doou os tambores para o estado, durante as comemorações do centenário de imigração japonesa. Böhm  foi um dos primeiros alunos, e hoje, além do trabalho no Ponto, lidera o grupo ShyuDaiko.
Mas foi em 2010, com o convênio firmado com o Ministério da Cultura (MinC), efetivando o Ponto de Cultura Difusão dos Tambores Japoneses que a entidade pode disseminar de forma mais abrangente a divulgação desta arte milenar. Os números comprovam isso: entre 2008 e 2009 foram realizadas 16 apresentações, e em 2010, primeiro ano como Ponto de Cultura, os Taikos encantaram o público em 40 diferentes ocasiões, sem limitar as apresentações à região de Joinville. No ano seguinte este número cresceu para 75, variando de grandes apresentações (como a que aconteceu no desfile de aniversário de Joinville, que teve um público estimado de 20 mil pessoas e foi transmitido ao vivo pela TV), ou exibições para um número restrito de pessoas, em eventos, por exemplo, sempre com a mesma emoção e técnica apurada. “Com o programa pudemos contratar instrutores extremamente qualificados, que compartilham um conhecimento único, e deste modo criamos e moldamos tocadores que sentem orgulho em continuar esse legado”, explica Luiz Fernando.
Ele ressalta que quando teve as primeiras aulas, em 2008, sequer imaginava o caminho que teria pela frente, mas em 2010, com o suporte do Ponto de Cultura conseguiu assistir uma apresentação de Taiko de um grupo profissional. “Ali foi um divisor de águas para mim. Motivado e com suporte de professores, o grupo foi crescendo em números e em técnica”, justifica.
Com a estrutura viabilizada pelo convênio, Mario Sato, o coordenador do Ponto de Cultura conseguiu implantar as oficinas em outras cinco cidades além de Joinville (Florianópolis, Frei Rogério, Curitibanos, São Joaquim e Caçador). Essa característica, segundo Luiz Fernando, garante ao Ponto de Cultura uma abrangência diferenciada.
Nesses três anos de convênio e com suas atividades focadas em crianças e jovens, preferencialmente de escolas públicas e municipais, o Ponto de Cultura Difusão dos Tambores Japoneses já conseguiu atender aproximadamente 1800 crianças, muitas delas recebendo aulas contínuas e experimentando a possibilidade de demonstrar os resultados de sua dedicação nas apresentações que os grupos realizam, principalmente em eventos comemorativos e escolas. Mas o papel do Ponto vai além das aulas, e abrange ações para disseminar ensinamentos da cultura oriental. “Passamos às crianças e jovens noções sobre condutas da cultura japonesa, relacionadas especialmente a valores como disciplina, assiduidade, pontualidade e respeito aos costumes e crenças orientais. Desta forma, aprimoramos na cultura brasileira a integração entre os povos, disseminando a prática de hábitos de culinária, dança, música e artes cênicas, tudo isso por meio de aulas de Taiko. Aprendi com a sra. Omilde Sato que o segredo de nosso trabalho é um só: continuidade”, afirma Luiz.
DIFICULDADES
O plano de trabalho do Ponto de Cultura se encerra em 2013, e o futuro das oficinas ainda é uma incógnita. De acordo com Luiz Fernando, a maior “batalha” dos grupos de Taiko no momento diz respeito à conquista de um lugar fixo e específico para os treinos. “Ao mesmo tempo em que o som dos tambores é a nossa característica mais marcante e nosso grande diferencial, ele é também o nosso maior inimigo para encontrar lugares para ensaiar. Acabamos esbarrando em reclamações de vizinhos e limitações ditadas pelo poder público”, explicou. Segundo Luiz, o grupo ShyuDaiko conta com o apoio da Fundação Cultural de Joinville e treina todos os domingos, das 08h00 às 20h00 no Centreventos Cau Hansen, e o grupo ShimaDaiko está atualmente sem local para treinar.
Mas nada disso chega a abalar a vontade de continuar o processo iniciado há cinco anos, que se energiza com a disposição em conquistar um nível de excelência cada vez maior. “O convênio com o Programa Cultura Viva foi e é um divisor de águas quando se fala de política cultural. Hoje estamos muito melhor preparados para lutar por uma possível renovação ou até mesmo por um novo convênio. Tenho uma convicção: a cultura não pode parar!”, finaliza Luiz Fernando Böhm.