Secretário César Souza Junior quer Editais e Virada Cultural em Florianópolis ainda em 2011

Na quinta-feira, dia 16 de junho, aconteceu uma importante reunião entre o Secretário César Souza Junior e representantes de diversas áreas do setor cultural. A surpresa não veio com os pedidos e esclarecimentos em relação às demandas de cada área – quase todas já bastante conhecidas e divulgadas. O que se destacou, na verdade, foram algumas declarações do Secretário, que demonstram a disposição de começar a “desatar os nós” que se estabeleceram no setor. “Passamos seis meses dormindo no setor cultural em Santa Catarina, e não podemos continuar assim”, afirmou César Souza.

 

Duas afirmações, em especial, provocaram um misto de surpresa, satisfação e, também, desconfiança: a de que em trinta dias o texto de uma segunda edição do Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura estará disponível para consulta pública, e a intenção de se realizar, ainda este ano, uma “Virada Cultural” em Florianópolis.

 

Com a agenda lotada de compromissos, o Secretário atrasou em mais de uma hora o início de seu encontro com os agentes do setor cultural, o que não diminuiu a disposição dos convidados. Cultura digital, circo, música, teatro, áudio-visual, cinema….. Um a um, os representantes de cada área foram se apresentando e listando suas reivindicações.

 

Algumas vezes foram interrompidos pelo Secretário, sempre no sentido de tirar dúvidas e deixar clara a sua surpresa em relação a números e outras informações. “Existem mesmo 35 companhias de circo atuando em Santa Catarina? Eu desconhecia esse dado!”, exclamou, ao ouvir o número de Flávio Silva, do Colegiado do Circo, que destacou, também, o fato de se tratar de uma área abordada de forma equivocada, inclusive nos editais.

 

Circo e Cultura Digital foram, aliás, as áreas com as quais o secretário César Souza pareceu menos familiarizado, e talvez por isso mesmo seus representantes tenham tomado um tempo extra nas exposições. “A Cultura Digital é uma área relativamente nova, que precisa urgentemente de reconhecimento e de ações pontuais no estado. O potencial é enorme, e Santa Catarina tem a chance de efetivar seu pioneirismo ao colocar o termo cultura digital em suas leis voltadas para a cultura”, explicou Thiago Skárnio, que falou pela área durante a reunião com o secretário.

 

Tempo extra também foi gasto por Leone Silva, diretor do Grupo de Teatro GATS, de Jaraguá do Sul, ao falar sobre a necessidade de estímulo à cultura através de iniciativas do governo. Leone, que fez parte da comissão responsável pela elaboração do Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura, lançado em 2009 e não mais reeditado, chamou atenção para o alcance do prêmio. O Elisabete Anderle recebeu 1428 inscrições, das quais 1083 foram habilitadas, e premiou 189 projetos. “O Edital recebeu inscrições do Estado todo, e 35 municípios tiveram projetos contemplados. Esses números comprovam sua importância”, reforçou Leone.

 

Ao escutar os números, o secretário afirmou que a partir dos dados percebe-se o quanto a cultura é centralizada na Capital, e que esse é um sinal para o governo de que ações descentralizadoras precisam ser implementadas. “Precisamos de uma descentralização forçada na área cultural. Descentralizar, é pulverizar cultura por todo o Estado”, explicou.

 

A promessa de lançar o edital para consulta em 30 dias foi justificada pelo fato de que se isso não for feito este ano, em 2012 será impossível, por se tratar de um ano eleitoral. Assim, para viabilizar todo o processo – compreendido pelo lançamento do texto, aprovação, publicação do edital, realização de inscrições, seleção e divulgação dos resultados –, é necessário “apertar o passo”.

 

Além do Elisabete Anderle, que contempla diversas áreas, o secretário assumiu o compromisso, também, de anunciar o lançamento do edital da cinemateca catarinense. E, atendendo ao pedido de Luiza Lins, diretora da Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis, prometeu fazê-lo durante a abertura do evento, que acontece dia 23 de junho.

 

“Os editais são consenso na área cultural. Temos, portanto, uma ferramenta clara e objetiva”, concluiu César Souza. “Quando assumi a Secretaria me disseram que das três áreas, o setor cultural era o que mais incomoda no estado, mas não é verdade. Nunca vi uma solução tão simples. Antes os outros setores fossem assim”, brincou.

 

Uma outra reivindicação ganhou espaço durante a reunião: Eduardo Vicari, o XuXu, que falava pela Associação da Cadeia Produtiva de Música de Santa Catarina (Musicatarina), chamou atenção para a atual representação do setor no Conselho Estadual de Cultura. De acordo com Eduardo, essa representação carece de legitimidade junto à classe, e, por isso, a Associação reivindica maior representatividade no Conselho.

 

O consenso entre os representantes do setor cultural e o secretário se verifica, também, quando o tema é a necessidade de se transformar as iniciativas de incentivo à cultura em uma política de estado. Essa certeza, que há muito tempo tem sido a bandeira carregada pelos agentes culturais de Santa Catarina, foi colocada em questão pelo secretário. “Aqui no estado temos uma empresa que me orgulha muito, a Santur. Percebi que o diferencial na Santur é que lá existe uma política pública. Mudaram os governos, mas não mudaram as pessoas que pensavam nos projetos. Essa deve ser a prática também na área cultural”, justificou.

 

O fato de o texto ser lançado para consulta pública servirá para que se obtenha considerações de representantes das diversas áreas, corrigindo eventuais problemas de enfoque e enquadramento de áreas. Isso se mostrou muito importante, especialmente depois das considerações feitas pelos representantes da cultura digital e circo, que se consideram pouco contempladas nos editais anteriormente lançados.

 

VIRADA CULTURAL

 

Em uma reunião repleta de números e novidades, nenhuma outra declaraação disponibilizada pelo secretário causou tanta surpresa quanto a sua disposição em realizar, ainda este ano, uma “virada cultural” em Florianópolis, nos moldes do que acontece anualmente em São Paulo.

 

Evento com duração de 24 horas ininterruptas, a “virada” em São Paulo atrai aproximadamente três milhões de pessoas, entre turistas e paulistanos, que têm acesso às mais variadas programações artísticas e culturais, espalhadas por diversas localidades na cidade. “Não quero imitar São Paulo, mas sim pegar emprestado o que eles têm de bom e fazer uma virada com a nossa cara, contemplando todas as áreas. Vamos abrir cinemas, teatros, museus, dar oportunidade a diversas manifestações e trazer pessoas para a cidade”, explicou Cesar Souza.

 

Obviamente, essa declaração animou a todos os presentes, mas era possível ouvir ao fundo um questionamento repetido algumas vezes: “Mas ainda este ano? E vai dar tempo de preparar tudo, secretário?”, perguntou, por exemplo, Luiza Lins. A resposta veio rápida. “Dá, sim! Eu quero este ano, porque precisamos entregar bons produtos culturais para a sociedade e injetar ânimo na comunidade cultural catarinense. Com o edital e a virada conseguiremos isso”, afirmou.

 

Promover um evento do porte da “virada cultural” requer uma estrutura especial e grandes investimentos, mas de acordo com o secretário, a ideia é unir recursos da cultura e verba proveniente, também, do Funturismo, já que se trata de uma programação que atrai grande número de pessoas e traz benefícios, também, para outras áreas. “Além disso, ao não lançar muitos editais acabamos economizando uma verba que poderá, então, ser aplicada na promoção da ‘virada’ em nosso estado”, concluiu o secretário.

 

Em São Paulo, a execução da virada promoveu, inclusive, o retorno do público a locais que se encontravam esvaziados devido aos índices de criminalidade e violência. As praças centrais da cidade, por exemplo, que na correria do horário comercial são como formigueiros humanos, transformavam-se em verdadeiros desertos fora desse período e nos finais de semana. Desde que começaram as viradas, houve uma retomada desses espaços pela população. A ideia é antecipar esse processo aqui em Florianópolis, e revitalizar áreas que aos poucos deixam de ser utilizadas.

 

INTERVALO

 

Nada assinado, mas muita coisa acordada e programada. Essa primeira reunião foi, na verdade, a comprovação da disposição do setor cultural em realizar e promover. Realizar eventos e ações, promover iniciativas e cultura em suas mais variadas formas.

Pelo lado da SOL, o Secretário César Souza Junior deixou registrada a sua disposição em ouvir e resolver os problemas e atender, na medida do possível, as demandas apresentadas.

 

“Estes espaços de diálogo com a comunidade cultural e o governo devem ser mantidos e se tornar cada vez mais freqüentes, pois são fundamentais para que a cultura seja promovida e valorizada em Santa Catarina. O “povo da cultura” tem uma capacidade enorme de se conectar e articular e pode contribuir muito com isso. O Pontão Ganesha está à disposição da secretaria para colaborar com a transparência desse processo”, declarou Thiago Skárnio, coordenador geral do Pontão Ganesha e representante da área de cultura digital no encontro com a SOL.

 

Os resultados efetivos da reunião podem ser conferidos já a partir da abertura da Mostra de Cinema Infantil, evento no qual o secretário deve lançar o edital da cinemateca catarinense.

 

Enquanto isso, resta ao setor cultural esperar pelas ações anunciadas, afinal, o secretário chamou para si a responsabilidade pelo próximo passo. “Agora a bola está com a secretaria”, declarou.

 

“Mas não será uma espera passiva. Vamos ficar atentos”, declarou Mariane Feil, da Setorial Permanente de Teatro.