Na abertura do FML, destaque para a importância de se agregar movimentos sociais ao debate

Na mesa de abertura do III Fórum de Mídia Livre (FML), que aconteceu na manhã desta quinta-feira (27/01), em Porto Alegre, Rita Freire, da Ciranda da Comunicação, se aproveitou de um relato sobre o histórico do evento para destacar a importância do movimento como difusor dos debates a respeito da mídia e do direito ao acesso à comunicação em todo o mundo. “O primeiro FML aconteceu no Rio de Janeiro, em 2008, e reuniu ativistas de comunicação e outros movimentos preocupados com essa luta. Começava ali não apenas um diálogo sobre a mídia, mas também um processo  para que os demais movimentos da sociedade também se apropriassem dessa discussão”, lembrou.
Para ela, o FML foi, na verdade, o leito de um processo de contribuições para o estabelecimento de agendas relacionadas a políticas públicas nas áreas da cultura e da mídia, inclusive a política de Pontos de Cultura.
Passados quase quatro anos daquele primeiro encontro, quando se buscava um diálogo com os governos para garantir direitos aos cidadãos, as colocações feitas no primeiro dia do FML evidenciam que houve progressos, mas também retrocessos, conforme explicou Rodrigo Savazoni, da Casa de Cultura Digital. “Se fizermos uma análise conjuntural, na troca de governo percebemos retrocessos, afinal, quando se pensa em política pública, o Estado precisa estar presente. No entanto, tivemos uma redução desse canal e também na qualidade do debate”, afirmou.
Opinião semelhante foi manifestada por Rachel Bragatto, dos coletivos Soylocoporti e Intervozes, que chamou atenção para uma questão que há tempos tem lugar garantido na pauta das discussões sobre o mídia e comunicação: o marco regulatório das comunicações. Para Rachel, essa definição é imprescindível. “Entidades e sociedade civil compartilharam a pauta do direito à comunicação, e é fundamental que seja garantida a variação de vozes, opiniões e cultura e o direito de veiculá-las também na grande mídia. Dependemos do governo para estabelecer esse marco”, acrescentou.
A ideia da mídia livre parece ter transbordado em si mesma. As discussões levantadas não se limitam a fronteiras geográficas. “Estávamos em Dakar no momento da queda das ditaduras árabes, em janeiro de 2011, e ali se pensou na realização do 2º FMML (Fórum Mundial de Mídia Livre) dentro da cúpula dos povos durante a conferencia da ONU sobre desenvolvimento sustentável, justiça climática e ambiental, na Rio + 20. Esperamos dar uma resposta aos países africanos que pediram para definir Mídia Livre”, lembrou Rita Freire.
Mas a importância da discussão não se resume a definições, e de acordo com Ivana Bentes, coordenadora do Pontão da ECO – UFRJ, uma das propostas a se levar para a Rio+20 é a de sair da discussão e usar a potência de mobilização e organização do ‘midialivrismo’. “A mídia é estruturante. Mais do que conceituar Mídia Livre, precisamos saber como podemos usar as ferramentas e como podemos agregar”, disse.
A estruturação da mídia também foi abordada por Marcelo Branco, coordenador do Conexões Globais, para quem as mídias sociais são, mais do que uma maneira de se fazer comunicação, uma nova forma de organização. “Os garotos na nova geração passam o dia discutindo na internet. E essa prática é muito importante, porque esse formato de mesa, palestra, não funciona. Nós abrimos oficinas online e as 250 vagas lotaram rapidamente”, exemplificou. Para Marcelo, iniciativas como as que aconteceram em Nova Iorque, com o movimento “Ocupa Wall Street”, são resultado desse processo, onde grandes corporações e movimentos sociais buscam um reposicionamento. “Existe essa novidade e precisamos nos aprofundar também nesse tema, nesse novo espaço de disputa”, opinou.
Há muito debate pela frente. “Precisamos nos reposicionar. Para discutir política pública, precisamos de uma análise de conjuntura que possa nos apontar a direção para onde vamos caminhar”, conclui Rodrigo Savazoni.
As discussões no III Fórum de Mídia Livre circulam ao redor de três eixos principais (direito à comunicação, apropriação tecnológica e políticas públicas), e prosseguem durante a tarde de sexta e todo o sábado (27 e 28/01), na Casa Mario Quintana, em Porto Alegre.
Texto: (Pontão Ganesha e Juliana Bassetti – Projeto Conexão Amanajé / Imagens: Coletivo Fora do Eixo)