MPB e a nova lógica do mercado

Não são muitas as oportunidades de se reunir artistas e público e criar um espaço de diálogo acerca de assuntos relacionados à lógica hegemônica da economia da cultura, mas o interesse demonstrado durante o debate “Cultura Livre: Direitos Autorais e o Movimento Música Para Baixar”, que aconteceu em Curitiba, no dia 21 de novembro, durante o Festival de Cultura do Paraná, deixou claro que os dois lados dividem interesses, têm dúvidas, buscam alternativas e, portanto, reconhecem que há  muito sobre o que se dialogar.
O time de debatedores era formado pelos músicos Raphael Morais (Banda Nuvens),  Nani Barbosa, Ju Fiorezi e Fábio Raesh (da Banda Eu, Você e Maria), além do DJ Manolo.
Se o início da conversa foi despretensiosa, com uma breve apresentação do movimento Música Para Baixar, o interesse e questionamentos colocaram na roda assuntos bastante polêmicos, relacionados à arrecadação dos direitos autorais e o papel do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), a flexibilização de licenças e o Creative Commons, além de questões pontuais sobre a Associação Brasileira de Festivais Independentes, formação de público, software livre e rádios comunitárias.
Público e artistas reconhecem a necessidade de preservar o reconhecimento da autoria e garantir a sustentabilidade financeira de quem produz, mas é consenso que isso deve acontecer de uma forma em que a sociedade também ganhe com a difusão das obras artísticas.
Jú Fiorezi lembrou que com as novas tecnologias isso não passa, necessariamente, pelo recolhimento dos direitos autorais. “Divulgando nossa obra na internet, podemos garantir público em nossas apresentações. Os shows e a venda de CDs passam a ser fundamentais para nossa sobrevivência”, aponta.
Opinião semelhante foi manifestada por Rafael, que defende a participação responsável das pessoas para que aconteça uma mudança na realidade atual. “Cada um de nós é um agente cultural e tem a possibilidade de transformar a lógica da economia da cultura. O MPB vem para propor outras formas de organização da classe, para questionar o jabá (prática comum em que artistas remuneram as rádios para veicularem sua obra), lutar contra projetos vigilantistas na Internet”, afirma.
Percebe-se, portanto, que nesse processo de modificação da produção e divulgação cultural os músicos consideram público e internet seus grandes aliados. “Se o público tiver acesso à música e gostar, ele irá ao show” explicou Nani Barbosa. “Ao contrário do rádio, na internet você escolhe o que quer ouvir. E, para que as pessoas cheguem até nós, é central que nos conheçam e que tenham a chance de apreciar nosso som”, acrescentou Fábio.
Ao final do debate, que se estendeu pela tarde cinzenta de Curitiba, ficou a sensação de que interação e disposição para o diálogo entre os participantes devem criar, sim, uma nova frente de discussões.
 
Fotos de Ivan Gama (estudante de Jornalismo da UniBrasil e integrante do grupo Midiabólicos), que participou da Cobertura Compartilhada do Festival de Cultura do Paraná.