Com a posse na tarde de hoje de Luiz Ekke Moukarzel na Secretaria Municipal de Cultura de Florianópolis, a capital de Santa Catarina passa a integrar, efetivamente, o pequeno grupo de municípios brasileiros que possuem uma secretaria específica para a área. A solenidade, que marca uma conquista expressiva, acontece em no mesmo dia em que a Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascas comemora 26 anos de criação, tornando 29 de julho uma data duplamente significativa para a cultura local.
Atual Superintendente da Fundação, Moukarzel afirma que o trabalho da Secretaria será centrado na elaboração de políticas estruturantes e perenes para a cultura, que tem papel fundamental no desenvolvimento da sociedade. “A atual administração municipal considerou isso ao criar, em um de seus primeiros atos, a pasta específica para a área. Isso significa o reconhecimento de sua importância estratégica e a equiparação da cultura às áreas essenciais ao bem estar humano e social. Trata-se de um compromisso assumido com a população de Florianópolis, que passa agora a contar com uma secretaria específica para pensar e estabelecer políticas para a área, e com recursos públicos para a valorização de sua cultura”, explica.
De acordo com o novo secretário, não cabe o discurso de que a Fundação Franklin Cascaes cumpria esse papel, uma vez que se trata de um órgão executor, o que justificaria os 26 anos de políticas de eventos para a cultura, que não contribuem para a solidez da área, uma vez que têm começo, meio e fim em si mesmos. O secretário destaca que os eventos são importantes, mas precisam estar ligados às políticas públicas para garantir sua continuidade, e lembra que nas mais de duas décadas de atuação da Fundação, apenas dois ou três eventos demonstraram o que ele chamou de ‘maturidade de permanência’. “Com a Secretaria e a Fundação as coisas serão diferente. Serão órgãos complementares”, observa.
Moukarzel afirma que a principal barreira neste primeiro momento é a falta de um diagnóstico local da cultura, quantificando e estabelecendo quem são, o que estão fazendo e como estão trabalhando os agentes culturais da Capital. “Vamos resolver isso com um minucioso mapeamento cultural, que é urgente. Vamos levantar, registrar e catalogar, reconhecendo as situações de artistas, de grupos, de equipamentos e fazeres da cultura, e criando um painel sobre tudo o que já existe neste segmento no município”, explica. Segundo o secretário, sem isso é impossível estabelecer, por exemplo, em quais áreas existem as maiores necessidades de atuação. “O ‘start’ principal para um bom plano de governo está nesse reconhecimento e catalogação da área”, explica.
Além do mapeamento, o secretário aponta a finalização do Plano Municipal de Cultura (PMC), que vem sendo construído há mais de um ano, numa parceria entre sociedade civil, Fundação e Conselho Municipal de Políticas Culturais (CMPC), que está prestes a ser encaminhado ao prefeito e, na sequência à Câmara de Vereadores para sua aprovação. “Com o Plano, o Fundo Municipal de Cultura e a própria atuação do CMPC estaremos alavancando a cultura em Florianópolis”, diz Luiz Moukarzel.
DESAFIOS
Numa reflexão mais ampla, Moukarzel coloca como grande desafio para a cultura local o que ele classifica como ‘comportamento adesista’. “De uma forma geral, temos uma facilidade enorme de aderir às coisas que vem de fora e uma dificuldade de compreensão de nossa cultura de base, de formação étnica, como tão importante quanto a que vem de fora”, afirma. Para o secretário, esse comportamento muitas vezes alimenta uma cadeia produtiva, mas acaba funcionando, inclusive, como um ‘anti-produto turísitco’. “São assuntos que teremos que discutir também. Pensar a cultura é fundamental, e sempre a longo prazo: como queremos que esteja a nossa cultura daqui a 20 ou 30 anos?”, questiona.
Para justificar sua colocação, Luiz Moukarzel faz uma comparação simples, que diz usar para explicar a importância de se retornar às raízes para projetar o futuro: “Quanto mais para trás você puxa o elástico de uma funda, mais longe consegue lançar a pedra. Eu preciso me reconhecer lá atrás, na base de minha formação e perspectiva cultural, para conseguir perceber mais adiante”, explica.
Nesse contexto, Moukarzel coloca a cultura – e o amplo acesso a ela – como o grande movimento estratégico para a inserção social e para diminuir diferenças. “A nossa função é estabelecer políticas que darão voz, vez e acesso aos artistas locais”, finaliza.