O Aterrinho da Praia de Iracema ficou colorido. Multicolorido. O Cortejo da Cidadania “Ebulição dos Libertos”, que marcou o encerramento da Mostra Artística e das Ações Cultura Viva na programação da Teia 2010: Tambores Digitais, trouxe às ruas de Fortaleza a diversidade brasileira manifesta nas fantasias, nos cânticos, nos batuques, nos rostos das pessoas.
Foi um encontro de gerações, de etnias, de sotaques, de olhares. “Dá pra ver que são diferentes, mas existe um elo que os conectam e eu acho que esse elo é o amor pela sua cultura”, declarou a cearense Virgínia Rodrigues, que assistia à passagem do cortejo pelas ruas.
De volta ao Dragão do Mar, o palco já estava armado para receber as últimas atrações do evento, que continua até quarta-feira com a realização do III Fórum Nacional dos Pontos de Cultura (FNPC), agregando delegados representantes de cada Ponto de Cultura do Brasil.
Os shows tiveram início com a apresentação de Pingo de Fortaleza e Calé Alencar, dois grandes representantes da cultura de Fortaleza e defensores do maracatu cearense. Parceiros de longa data eles mostraram entrosamento no palco.
Depois foi a vez do Coletivo Rádio Cipó (PA) e sua música eletrônica. Com a música “Emoriô” o grupo Kilombando (MG) iniciou sua apresentação, que trouxe ainda músicas como “Mundo Negro”, louvando a afirmação da identidade afro-brasileira.
E por falar em afirmação, foi com esse espírito que Chico César subiu ao palco às 23h30. Trazendo as músicas tradicionais da região nordeste como xotes, forrós, frevos e afoxés, ele levantou o público que lotava a Beira-Mar. Cantando seus principais hits como “Mama África” e “Respeitem meus cabelos, brancos” sempre entremeados de outra músicas em arranjos que já fazem parte de sua forma de cantar, ele reforçou a idéia da identidade negra.
E os rastafaris e black powers responderam balançando os cabelos e cantando bem alto. O momento romântico veio com a música “É só pensar em você” e em toda praia se viam beijos apaixonados e casais dançando abraçadinhos. Mas logo a dança voltou a ser “anarriê/alavantu” e o forró dominou a cena até o fim da apresentação. Ao cantar uma música de parceria com Dominguinhos, “Deus me proteja”, ele disse:
“E por falar em Mestre (Dominguinhos), gostaria de saudar os mestres griôs aqui presentes e pedir a todos que assinem e lutem pela aprovação da Lei Griô no Congresso para garantir que os saberes, que a oralidade, que as tradições não morram.”
Chico César, que é o atual presidente da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), na Paraíba, sua terra natal, concilia a agenda artística com suas atividades à frente da gestão pública e revela que esteve na II Conferência Nacional de Cultura, acontecida este mês em Brasília, para lutar pelas demandas percebidas junto ao povo, aos trabalhadores da cultura. Entre elas está também a criação da Lei Cultura Viva.
Chico César encerrou sua participação apresentando sua banda – um show à parte – com a música “Pedra de Responsa” que louva São Luís do Maranhão.
- D. Zefinha foi a vez da música alegórica do grupo Dona Zefinha. Com uma performance marcante os músicos se desdobravam no palco numa apresentação que era música, mas era mais: era também teatro, dança, comédia, poesia, improviso, talvez pela influência do Orlângelo Leal, vocalista, que é ator e diretor teatral. “É uma alegria muito grande tocar na minha terra, num evento como a Teia e no mesmo palco que Chico César, que a gente admira demais.” – disse ele, que já esteve em outros palcos importantes em todo o Brasil e fora dele. O grupo, em que todos são arte-educadores e atores, trabalha o segundo CD, intitulado “Zefinha vai à Feira”. (Conheça mais sobre o grupo aqui.)
No final da festa, o reggae baiano da banda Trilheirus. Os meninos de Andaraí, na Chapada Diamantina, colocaram o público pra dançar até o dia amanhecer.
Por Carine Araújo/Tabuleiro Produções (Cobertura Compartilhada)