Entidades preparam, para outubro, Fórum sobre atuação das escolas de samba nas comunidades

No ano de 2009, em meio à 17ª Kizomba – Festa de Exaltação à Cultura Afro (que tradicionalmente acontece na comunidade do Caeira do Saco dos Limões), a diretora cultural da Escola de Samba Consulado, Graça Carneiro, abriu espaço no evento para uma discussão sobre as Escolas de Samba como pontos de cultura. O que ela fazia, na verdade, era jogar luz sobre questões que fazem parte do dia a dia de quem participa das escolas, sabendo que a função dessas agremiações vai muito além daquela hora e pouco que dura o desfile na avenida.

Mas o que é realmente necessário para que as escolas de samba se firmem como referências culturais nas comunidades, não apenas durante o Carnaval? Como promover a integração entre escola e comunidade, num processo que fomente ações de promoção e preservação da cultura? As escolas de samba estão, realmente, interessadas em participar ativamente da vida cultural das comunidades? E as comunidades, por sua vez, o que esperam das escolas de samba?
Para colocar novamente esses assuntos em pauta, a Coordenadoria Municipal de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial (Coppir), promoveu, na tarde de segunda-feira (23/05), um encontro objetivando a mobilização e organização do Fórum de Discussão sobre as Escolas de Samba como Espaços Culturais, evento programado para o mês de outubro de 2011, e que servirá como abertura para as comemorações do Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro.
 
Na abertura do encontro, Graça Carneiro fez um breve histórico sobre a Kizomba e explicou como essa discussão tomou corpo durante o evento de 2009, mobilizando pessoas da comunidade e diretores de escolas de samba. “Para estimular a participação de pessoas de todas as escolas de samba de Florianópolis, em 2010 resolvemos levar essa discussão para fora da quadra da Consulado, rompendo qualquer barreira que pudesse existir para a participação das comunidades, que estão no centro dessa discussão!”, explicou.
 
Estimular essa integração entre escola e comunidades e fomentar o desenvolvimento de projetos que valorizem a cultura de cada local, é , de fato, muito importante, mas para que isso aconteça, primeiro é necessário que se conheça o que tem sido feito e produzido por cada uma das escolas, e, também, o que as comunidades desejam.  Ana Paula Cardozo, coordenadora da Coppir, diz que é nesse ponto que se encontra o primeiro grande desafio para a organização do Fórum. “Temos que mapear cada escola, cada bloco carnavalesco, conhecer os projetos sociais que desenvolvem, qual o público atingido e duração dessas atividades. Só assim conseguiremos sensibilizar a todos e estimular a participação das comunidades no Fórum”, explicou Ana Paula.
 
Essa falta de conhecimento a respeito das atividades sociais e culturais promovidas e desenvolvidas pelas escolas de samba não é prerrogativa de quem não é diretamente ligado a elas. “É realmente uma pena que as experiências desenvolvidas nas escolas não venham à tona. Nós sabemos que as escolas têm um responsável pela área cultural, mas não sabemos quem responde efetivamente pelos projetos em cada uma delas, e essas pessoas existem!”, afirmou Giovani Rodrigues Mariot, diretor administrativo e jurídico da Liga das Escolas de Samba de Florianópolis (LIESF).
 
E como forma de tentar solucionar esse problema, o prórprio Giovania assumiu o compromisso de levantar a questão na reunião extraordinária da LIESF, que acontece dia 25 de maio. Além disso, Estela Maris Cardoso, representante da União de Negros pela Igualdade de Santa Catarina (UNEGRO/SC), chamou atenção para a necessidade de solicitar um espaço em um próximo encontro dos presidentes das escolas, para que os representantes dos movimentos presentes à reunião de segunda-feira falem sobre o Fórum e defendam sua importância para as escolas e comunidades. “As escolas de samba precisam ter noção de sua real função política e social junto às comunidades. Sensibilizar as pessoas é importante, mas dar um retorno a respeito de tudo o que é feito é essencial”, explicou.

Esse processo de troca de informações, que motiva a integração entre escolas e comunidades, é de fundamental importância no momento de se implantar os projetos sócio-culturais. Especialmente levando-se em conta o fato de que as crianças e jovens passam entre três e quatro horas diárias na escola formal, onde há pouco – ou nenhum – tempo disponível para aulas de arte, dança, teatro ou qualquer outro estímulo ao desenvolvimento cultural. . “Os poucos projetos que existem atingem uma pequena parcela da comunidade, que ainda não está inserida na criminalidade”, opinou Ana Cardoso, que também participa da UNEGRO/SC.

 
Como espaços alternativos, as escolas de samba configuram-se, assim, como alternativas fundamentais para o desenvolvimento e formação saudáveis desses cidadãos.
 
 
Como resultado efetivo da reunião, foram levantadas vários encaminhamentos relacionados à organização do Fórum, em outubro. Além do mapeamento das escolas de samba e blocos carnavalescos (com atenção especial ao projetos sócio-culturais que desenvolvem) e da participação na reunião da LIESF para falar sobre o evento, os presentes destacaram a importância de se apresentar projetos desenvolvidos por escolas de samba de outras localidades. “Há uma série de experiências e projetos exitosos desenvolvidos, por exemplo, pelas escolas do Rio de Janeiro. Por que não trazê-los para cá e adaptar as ideias à nossa realidade?”, concluiu Estela Maris.
 
A reunião de segunda-feira foi um primeiro passo no sentido de se preparar o Fórum de 2011, e os encaminhamentos listados nortearão, a partir de agora, as ações dor organizadores, que aguardam o contato da diretoria da LIESF.

(Texto construído de forma colaborativa, com a participação de Gabriela dos Santos e Patrícia Silva, alunas do Projeto de Jornalismo Cidadão – parceria entre a Associação Cultural Alquimídia e o Projeto Caeira 21)