Contar estórias, resgatar hábitos e a cultura tradicional, e a distribuí-la para as novas gerações. Essa é a missão de um Griô. Selecionados pelo Programa Ação Griô do Ministério da Cultura, os griôs espalham-se por todos cantos do Brasil. Foi assim que um deles foi parar na Ilha da pintada, região do Delta do Jacuí em Porto Alegre-RS.
Organizada pelo Instituto Cultural Português, a Ação Griô da Ilha da Pintada funciona desde março de 2009. Lá, Mestre e aprendizes griôs trabalham junto à comunidade escolar, na Escola Estadual Maria José Mabilde, na sensibilização e identificação das histórias e estórias locais. Mitos, costumes, lendas, colonização e meio ambiente são algumas das temáticas trabalhadas em sala de aula, com alunos de 2ª a 8ª série do ensino fundamental.
Conforme a mestre Griô, Teresinha da Silva, os ensinamentos e troca de experiências são feitas durante o horário de aula em parceria com as disciplinas do currículo escolar, através da interdisciplinaridade. Os assuntos abordados, a metodologia e os produtos produzidos ao final das oficinas variam conforme o ano escolar. “Da 2ª à 5ª série trabalhamos como localização geográfica e identidade local e pessoal, na 6ª série trabalhamos a pesquisa de mitos, na 7ª conversamos sobre as datas históricas e linhas do tempo, e na 8ª a arquitetura da ilha” conta Teresinha.
A mestre griô ainda comenta que devem resultar como produtos das aulas: mapas, quadros com linhas do tempo, além de maquetes, todos feitos pelos próprios alunos e deverão ser expostos no museu da cidade. Ela lembra também que esse envolvimento com a comunidade escolar, já proporcionou a dois alunos da escola a participação em uma na oficina de cinema promovida pela rede Mocambos Sul e a Escola de Cinema Darcy Ribeiro. “Estamos estudando maneiras de viabilizar a produção desse material proposto pelos alunos na oficina de cinema” menciona. Outro produto da ação Griô na comunidade, será uma coletânea de livros contendo todos os dados levantados durante as pesquisas com a comunidade local.
Afim de aproximar também toda a comunidade do resgate da ancestralidade da Ilha da Pintada, a escola também tem promovido atividades extra-curriculares nos sábados para os ensinamentos griôs.
Além de mestre Griô Teresinha trabalham no projeto mais 5 mulheres como Griôs aprendizes. Elas se dividem dois grupos: 3 delas dedicam-se a história ora. Já as outras 2 griôs aprendizes, vem da parceria com o grupo Art’Escama da AGAVE, e dão enfoque ao trabalho artesanal com escamas de peixe. Um hábito, que conforme Teresinha, teve início na colonização da cidade quando as freiras usavam as escamas de peixes para enfeitar os altares da igreja local. Essas 5 Griôs são chamadas de aprendizes por seguirem os ensinamentos de sua mestre, e colaborar com as pesquisas e oficinas. para o trabalho de estória oral e artesanato.
Para a aprendiz Griô Cleusa Fátima de Assis, a ação Griô não só proporciona a comunidade a se conhecer, mas também a ela mesma se conhecer um pouco melhor. “Sou ilhéu, nasci na Ilha da Pintada, e pelas pesquisas que fizemos e dos conhecimentos transmitidos pela dona Teresinha pude reconhecer melhor minha tradições, minhas origens” salienta ela, ao dizer-se orgulhosa por fazer parte desta ação.
Interessados em conhecer a Ilha da Pintada e mais sobre seu trabalho com a ação Griô, podem entrar em contato com a mestre griô Teresinha da Silva, através do email: teresinha.carvalho65@terra.com.br
Por Fabiane Berlese
Jornalista do Pontão Ganesha
Fotos: Rene Hass