Cultura Digital: alternativa e estímulo para a conquista da democracia

Durante o painel “Dados Abertos, Participação, Educação e Democracia Digital”, que aconteceu no domingo (19/05), durante o I Congresso Latinoamericano de Cultura Viva Comunitária, e lotou o auditório da Cinemateca Boliviana, representantes de diversos países latinos debateram as alternativas que a cultura digital pode fornecer nos campos da educação, cultura, infraestrutura e ação política, entre outros.

Por intermédio de exemplos apresentados, foi possível concluir que existe uma parcela do direito à comunicação que não é contemplada unicamente pela liberdade de expressão ou mesmo pela utilização de uma rede e ferramentas livres. Nesse complexo processo, o acesso à rede é apenas um dos muitos passos que precisam ser dados. Isso reforça a ideia de que a cultura digital fornece meios e, sobretudo, requer o uso adequado para que se alcance os objetivos desejados.

Mapeamentos, por exemplo, são ferramentas eficazes para levantar dados e possibilitar que diferentes organismos – especialmente os complementares –  visualizem um ao outro, mas os dados não trabalham por si. “Depois do mapeamento, vimos que a informação não bastava; ações eram essenciais”, conta Diego de La Cruz, membro de uma organização peruana que por meio da ferramenta levantou uma serie de irregularidades relacionadas à transparência do governo e mesmo à “invisibilidade” de organismos da sociedade civil. Foi a partir desta conclusão que a organização passou, por exemplo, a incidir junto ao poder público e a articular outros grupos, investindo no sentido de utilizar os dados e transformar as informações em mudanças concretas e projetos.

Por aqui, o projeto “Proprietários do Brasil” promoveu uma campanha de mapeamento de redes empresariais e gerou um índice de poder acumulado e um ranking de ‘controladoras’. A campanha, viabilizada pelo Instituto Mais Democracia através do site catarse.me – plataforma de financiamento colaborativo para projetos criativos – impulsionou uma grande onda de mobilização, repercussão e receptividade não apenas no Brasil, mas também em outros países. De acordo com a coordenação do Instituto, durante a primeira fase do projeto foi possível mostrar como o ranking representa uma ferramenta importante para a transformação social, capaz de auxiliar na compreensão sobre a força do poder econômico na sociedade brasileira. “O faturamento somado das empresas que compõem o ranking representa 50% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Dentre elas, 12% detêm 50% do dinheiro, e esse 1% recebe muito investimento público através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), além de financiar campanhas eleitorais. Isso gera um ciclo de concentração de renda ligado ao poder”, explicou Adriano Belisário, do Instituto Mais Democracia.

De acordo com João Paulo Mehl, do Coletivo Soylocoporti, que atua na cultura digital pela integração latinoamericana,  mais do que disponibilizar as informações e agir por meio delas, é essencial haver que a democracia digital seja efetiva, e não apenas um mecanismo institucional, mas também comunitário. “Precisamos encontrar respostas para tornar os governos, instituições e políticas públicas permeáveis à incidência popular”, disse.

(Texto produzido com base nas anotações de Phillipe Trindade, do Coletivo Soylocoporti, que participou da Cobertura Compartilhada do evento. Foto de Beatriz Moreira, do Coletivo Soylocoporti)