Mobilizados pelas redes sociais, aproximadamente 150 pessoas, entre artistas, produtores culturais e estudantes, reuniram-se na tarde de segunda-feira (23/04) em frente ao Centro Integrado de Cultura (CIC), que abriga a sede da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), e deram início a uma manifestação justificada, de acordo com o que consta na carta elaborada pelo Fórum Catarina, pelo repúdio à pouca atenção que o governo do estado tem dispensado ao setor cultural.
O recente “engavetamento” do Edital Elisabete Anderle, prometido em 2011 pelo então secretário de Turismo Cultura e Esporte, Cesar Souza Junior, foi a gota d’água para a mobilização, mas uma serie de cobranças vêm sendo feitas desde o ano passado, quando o prazo para a conclusão do processo de adesão do estado ao Sistema Nacional de Cultura (SNC) estava prestes a vencer, sem que os órgãos competentes tomassem providências.
A partir das 15h00, os manifestantes começaram a se reunir em frente ao prédio do CIC. Inicialmente eram poucos e isolados – cerca de 20 pessoas -, mas aos poucos mais pessoas foram chegando e a animação foi aumentando. Primeiro ocuparam o espaço externo, mas às 16h00 todos se instalaram no hall do CIC, observados à distância pelo policial responsável pela segurança. A proposta era realizar uma manifestação pacífica, com ocupação do espaço, apresentações artísticas e leitura da carta encaminhada ao Governador do Estado, Secretário de Cultura, Presidente da FCC, Frente Parlamentar pela Cultura Catarinense e Conselho Estadual de Cultura (CEC), que naquela tarde estava reunido com o presidente da FCC para avaliação de projetos apresentados ao Funcultural.
De acordo com Flávia Person, produtora cultural e diretora administrativa da Cinemateca Catarinense, a ideia da comunidade cultural era pelo diálogo, cobrando respostas, sim, mas com a disposição de trabalhar em conjunto pela cultura de Santa Catarina. “Estamos aqui para conversar”, disse.
Com faixas abertas e cartazes pendurados em um varal, começou a leitura pública e comentada da carta, que apresenta dez reivindicações, que vão do respeito às decisões do CEC à criação de uma secretaria específica para a área da cultura no estado. O documento é assinado por 131 entidades, coletivos e grupos ligados ao setor cultural de todo o estado, além de seis conselheiros do CEC.
Desde que entraram no prédio do CIC, os manifestantes pediam a presença do presidente da FCC, Joceli de Souza, para que fosse feita a entrega formal e presencial do documento. O conselheiro Luciano Cavichiolli – eleito no congresso da Fecate para a área do Teatro – foi à presidência, pedir que Joceli atendesse o pedido dos presentes e se dirigisse ao hall do CIC. Enquanto esperavam, manifestantes e conselheiros se revezavam ao microfone; enquanto alguns argumentavam, expondo motivos e razões para o movimento, em sua maioria os conselheiros manifestavam apoio à iniciativa e cobravam, também, um maior respeito às ações e decisões do Conselho.
A presidente do Conselho, Mary Benedet Garcia pediu espaço para falar especificamente de dois questionamentos que compõem a carta – relacionados ao Salão Victor Meirelles e ao Prêmio Cruz Sousa – que tiveram suas edições canceladas. Segundo afirmou, a decisão foi tomada com base na necessidade de mudanças nos dois eventos, solicitadas, segundo afirma, também por artistas.
Em relação à manifestação, a presidente afirmou que toda iniciativa no sentido da valorização da cultura deve ser respeitada, e que o Conselho precisa ficar próximo ao movimento, principalmente no sentido de entender cada uma das reivindicações dos manifestantes. “Entendemos que só com o diálogo conseguiremos construir uma mudança positiva para todo o coletivo da cultura”, afirmou.
Mary Garcia afirmou que a pouca atuação do Conselho no sentido trabalhar na construção de políticas públicas para o setor cultural – outra cobrança feita na carta – justifica-se pela grande quantidade de projetos que são submetidos ao CEC, que precisa emitir pareceres coerentes e com aglidade. “Nesse processo, temos um tempo reduzido para trabalhar com as políticas públicas”, explica, acrescentando que o colegiado já aceitou trabalhar dois dias por semana para tentar suprir essa falta de tempo e dedicar também atenção à elaboração e efetivação de políticas públicas para a cultura. “Chegou o momento em que não podemos nos furtar desse trabalho, que é importante e que aliás vai determinar todo o direcionamento para o setor. Precisamos manter um constante diálogo com a classe artística, para que sejam implantadas políticas sérias e de continuidade, a então, manifestações como essas não serão mais necessárias”, complementou.
Enquanto isso, Luciano Cavichiolli voltou ao hall do CIC, com a notícia de que o presidente receberia uma comissão de quatro ou cinco representantes, mas não compareceria ao local da manifestação.
Em uma rápida votação, foi decidido que o grupo todo se dirigiria à sala do presidente, para entregar em mãos a carta e dar início a um diálogo com o dirigente da FCC. Apitaço e palavras de ordem ecoaram pelos corredores do CIC, e enquanto manifestantes entravam por um lado, Joceli de Souza saía pelo outro, deixando os servidores como anfitriões de uma comitiva que carregava colchões, e se mostrava disposta a esperar pela conversa. Tudo registrado em fotos e vídeos, que logo na sequência foram postados na internet, como forma de dar visibilidade a uma manifestação que, até aquele momento, não havia despertado a atenção da mídia.
De acordo com Marilene Rodrigues Correia, assessora de imprensa da FCC, a posição da entidade é a de abertura para o diálogo. “A presidência sempre se colocou à disposição da comunidade cultural para a conversa. Este espaço é aberto, e hoje ninguém foi impedido de entrar aqui e realizar seu protesto. Por conta de compromissos pré-agendados, o presidente precisou se ausentar, mas esperou até as 17h00 por uma comissão, que não apareceu”, justificou.
Cerca de vinte minutos depois, todos decidiram retornar à entrada do CIC, onde barracas foram montadas para abrigar parte dos manifestantes, que desejam se revezar numa vigília que deve durar pelo menos até sexta-feira, prazo registrado na carta elaborada pelo movimento para que seja marcada uma audiência com o governador do estado.
A manifestação em vídeos no YouTube
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