A terceira edição do Fórum de Mídia Livre (FML), evento que aconteceu em Porto Alegre (RS), nos dias 27 e 28 de janeiro – paralelamente ao Fórum Social Temático (FST), foi repleta de discussões sobre o espaço da mídia no contexto das mobilizações globais por um mundo mais democrático, plural, participativo e sustentável.
Nos três eixos de discussão (que colocaram em questão o “Direito à Comunicação”, “A Apropriação Tecnológica e Redes” e “As Políticas Públicas”) ficou claro que os midialivristas e todas as suas formas de organização e expressão (blogs, redes sociais, comunicação comunitária, produção audiovisual, veículos alternativos, etc.) conquistam espaço e importância em todo o mundo.
Mas esse espaço e importância ficaram ainda mais marcantes durante o Painel Internacional “Mídia Alternativa na Palestina”, realizado às 11h00, no primeiro dia do FML. Tratava-se da exposição de impressões e realidades de pessoas que vivem em países nos quais a mídia e a comunicação são submetidas à vontade dos governos, cerceando o acesso à informação ou à pluralidade de ideias.
De acordo com Mohamed Leghtas, coordenador do portal da sociedade civil Magreb/Mackrek, uma situação diferenciada começou a surgir em 2007, quando o Fórum Social Mundial foi realizado no Quênia, e o Mundo Árabe se deu conta de que não usava a internet para comunicação. Representantes da Líbia, Palestina, Egito, Argélia e Iraque iniciaram um projeto de uso da rede como forma de comunicação alternativa, e o passo inicial foram oficinas de treinamento da comunidade local em uso de software livre, celulares e postagem de vídeos e fotos em plataformas como Facebook e YouTube.
“A situação política na região foi caracterizada pela falta de liberdade de expressão, de diálogo, e falar em novas tecnologias de comunicação foi uma maneira de ultrapassar o controle e a censura. Naquela ocasião, várias alternativas de mídias foram desenvolvidas”, lembrou Mohamed. Das rádios comunitárias à comunicação em rede, todas as alternativas foram utilizadas para dar início ao que Mohamed classifica como uma ‘revolução’.
Os resultados foram rápidos e eficientes, conforme as informações e dados listados por Mohamed. Desde que se iniciou esse processo, o número de usuários do Facebook triplicou (hoje são mais de 7 milhões de pessoas), e durante a revolução do Egito, 1,7 milhão discutiram o fato pelo site. “Muita network tem se realizado entre os movimentos sociais na região. São ferramentas para a luta. Sem armas AK-47, mas com Twitter e Facebook. A câmera é uma arma sem balas”, explica Leghtas, acrescentando que “estão ocorrendo muitas mudanças, mas não sabemos para qual direção apontam”.
Na opinião de Ahmad Jaradat, do Alternative Information Center, a mídia alternativa contribui com essas mudanças de comportamento nas esferas social e política, na medida em que disponibiliza olhares diferenciados aos fatos, e dão espaço para o que não é divulgado pelos veículos oficiais. “Em 1993 todos os jornais eram controlados antes de ser distribuídos, e hoje podemos falar do dois tipos de mídia: a oficial, que quer manter como tudo é, e a mídia alternativa, que quer a mudança”, afirmou.
Ahmad destaca, entretanto, que atualmente uma das ocupações da polícia tem sido controlar a mídia. “Muita gente foi presa em função do que publica em jornais e blogs”, informou.
Mas isso não diminui a atividade em rede, conforme apontou. O primeiro ministro da Palestina impôs uma política, e as pessoas, especialmente os jovens, estão se manifestando através do Facebook, principalmente contra a ocupação da Palestina e em relação à política salarial imposta pelo governo. Ahmad insite na importância política desse comportamento gerado pela comunicação em rede: “A questão não é simplesmente enviar informação às pessoas, mas estimular as reflexões a respeito da realidade”.
Nesse processo, os jovens têm papel fundamental. De acordo com a jornalista Baby Siqueira Abrão, corresponde do Brasil de Fato na Palestina e representante do Palestinian Center Peace and Democracy, isso acontece não apenas porque são usuários das comunicação via redes sociais, mas também por uma característica inerente à idade: “Os jovens não aceitam estar submetidos a partidos políticos. Eles querem seguir uma nova ideia, uma nova proposta”.
O Palestinian Center dá cursos de formação política para jovens da Cisjordânia, explorando temas como democracia e sociedade civil. Além disso, recebem treinamento na área de mídia. Ao final do curso, vários acabam criando seus próprios programas. Para muitos, esta é a única alternativa de aprendizado e espaço para discussão. “As vilas são muito simples, muçulmanas, vivem da agricultura. A universidade é cara e não existe ensino superior público.
Segundo a jornalista, há várias manifestações e disputas entre sociedade civil e governo que sequer chegam a ser noticiadas por aqui. “Não existe espaço no Brasil para notícias da Palestina. Só a mídia alternativa, como o Brasil de Fato, Carta Maior e outros poucos abrem espaço para o assunto. Mas graças à internet, o mundo toma conhecimento disso”, concluiu.
O Pontão Ganesha participa da Cobertura Colaborativa Especial Ciranda III FML (Link http://www.ciranda.net/mot/forum-midia-livre)
Texto: Thiago Skárnio e LuZuê | Projeto Conexão Amanajé – Juliana Bassetti
Texto: Thiago Skárnio e LuZuê | Projeto Conexão Amanajé – Juliana Bassetti
Fotos: Thiago Skárnio
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