Pré-Conferência Regional Sul de Comunicação da CUT

Convergência Tecnológica, Digitalização e Mídia Eletrônica
Na manhã do segundo dia de Pré-Confecom uma mesa redonda, com características de oficinas, debateu os desafios colocados às organizações populares na conjuntura de constantes mudanças tecnológicas na área da comunicação. O jornalista e professor do Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina [UFSC], Carlos Locatelli abordou a temática convergência tecnológica. Para ele, o avanço tecnológico, nos moldes atuais, reforça o capital. “A convergência tecnológica quase sempre potencializa quem detém o poder. Ela vai beneficiar os que têm mais condições de se apropriar dela. E tudo isso está relacionado à globalização. A maioria das novas tecnologias do setor vem de fora. Esse mercado internacional da comunicação passa por fortes mudanças constantemente. O capital, por sua vez, só está interessado na reprodução de suas cifras, e, por isso, viu no mercado midiático um grande negócio e passou a atuar no ramo. Diante disso, é necessário pensar para o Brasil um sistema de comunicação a partir da sua função social, inclusive com o controle da sociedade”, apontou. Ainda de acordo com Locatelli, o movimento social deve construir e disseminar um discurso a partir do direito à informação para avançar na democratização dos meios.

Telecomunicações
A mesa continuou com a intervenção do engenheiro eletrônico e dirigente da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Telecomunicações [Fittel], Juan Sanches. Ele começou sua fala questionando os participantes. “Quantos aqui sabem que nos dias 21 e22 de maio a Anatel vai realizar uma audiência pública aqui em Florianópolis sobre o Plano Nacional de Outorgas em Telecomunicações? Enquanto isso só permanece numa pequena chamada, as grandes empresas do setor, como Oi, Vivo, entre outras, fazem a festa. Temos que perceber que telecomunicações também fazem parte do debate de comunicação. As empresas transformam o recurso natural, que é o espectro eletromagnético por onde passam as informações, em bem privado. Ninguém pode ser dono, tem que haver concessão, mas deve servir para o benefício social. O problema fundamental da comunicação é a propriedade privada”, resumiu.

Radiodifusão e Rádios Comunitárias
O coordenador da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Radiodifusão [Fitert], Nascimento Silva, abriu a temática seguinte sobre radiodifusão e rádios comunitárias. Em sua exposição, endossou a fala anterior. “Muita gente acha que o debate sobre a comunicação só interessa aos profissionais do setor. Ledo engano, ele interessa a toda sociedade, porque hoje os donos de rádio acham que são donos do sinal, quando na verdade ele é de toda população”. Sobre a Confecom, Nascimento revelou uma preocupação. “É agora que começam os problemas, porque antes todo mundo reivindicava a convocação da Conferência, mas e aí? O que fazer nesse momento? Acho que a soma de forças para consensuar propostas é fundamental, porque ela [a Confecom] não será encaminhada da forma que queremos. Vamos ter que brigar para avançar nas nossas reivindicações, caso contrário vamos apenas referendar posições de outros setores da sociedade”, alertou.

Ainda no painel sobre rádios comunitárias, José Sóter [Abraço], disse que não há diferenciação sobre os conceitos de público, estatal e privado nas comunicações. “Achamos que tudo o que é público é do estado. Também fica difícil definir de que forma deve atuar as emissoras privadas, pois têm, de acordo com a legislação, que prestar um serviço social para fazer jus a sua concessão pública. Temos que debater muito isso para irmos para a Confecom com embasamento. Também há a necessidade de regulamentar o funcionamento das rádios comunitárias, para que não atuem estritamente na concepção religiosa, esportiva ou comercial. É preciso garantir no pluralismo nas rádios comunitárias”.

Publicidade, Recepção e Consumo
A diretora executiva nacional da Campanha “Quem financia a Baixaria é Contra a Cidadania”, Cláudia Cardoso, palestrou sobre o tema “Publicidade, Recepção e Consumo”. De acordo com a pedagoga, o capital conseguiu transformar bruscamente a sociedade. “O capitalismo conseguiu converter o cidadão, com direito à alimentação, saúde, habitação; em consumidor, com o direito, ainda que restrito, apenas de consumir. A mídia é responsável por tudo isso, porque atualmente quando falamos em comunicação, falamos de capital. E o que o capitalismo quer em última instância é o lucro, a qualquer preço”.

Cardoso também chamou a atenção para a publicidade em rádios e TV’s. “Nos preocupamos mais com esses dois meios porque atingem a ampla maioria da sociedade. No Brasil, cerca de 80% da população se informa através da TV. Então podemos dizer que somos um país midiático. Logo, nosso papel é questionar se a produção televisiva e radiofônica não poderia ser diferente, já que tudo passa pela mídia e ela constitui nossa percepção da realidade. Assim, também é possível afirmar que o capital está criando a nossa realidade”.

Ética, Estética e Diversidades
A última palestra da manhã foi de José Torves [Fenaj]. Ele abordou o assunto “Produção de Conteúdo: ética, estética e diversidades”. Segundo ele, há uma migração da publicidade e da audiência da TV para a Internet. Sobre estética, foi incisivo: “a mídia dita a moda, o consumo e o comportamento. Temos fazer a mudança do padrão estipulado para provocar novas experimentações com as características regionais do nosso povo, a fim de promover a produção cultural regional”.

Já a respeito da estratégia do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação [FNDC] para a intervenção na Confecom, Torves afirmou que é preciso verificar os assuntos que são prioritários para cada setor e disputar com qualidade a Conferência a partir da organização e consenso dos movimentos sociais. “Vamos setorizar para avançar”, concluiu.

A estratégia da CUT e do movimento social na Conferência Nacional de Comunicação
As palestras da Pré-Confecom terminaram na tarde do segundo dia com falas da secretária nacional de comunicação da CUT, Rosane Bertotti, e de José Sóter [Abraço], sobre a estratégia que será adotada pela CUT e movimentos sociais para intervenção na Conferência Nacional de Comunicação.

Na avaliação de Bertotti, os elementos trazidos foram fundamentais para consolidar propostas para a Confecom que sejam estratégicas na disputa de hegemonia. “Uma das questões centrais é que necessitamos de instrumentos próprios para dialogar com a sociedade, para que não fiquemos reféns da mídia mercantil. Para isso, precisamos fazer um grande mutirão de debate, transformando o espaço proporcionado pela Conferência em construção, em consolidação efetiva de posições do campo popular, dos que defendem a democratização dos meios de comunicação”, explicou Rosane Bertotti.

Sóter parabenizou a CUT pela realização da Pré-Confecom e afirmou que a estratégia da Central está correta. “A CUT acerta quando foca a classe trabalhadora no debate sobre a Conferência. Agora precisamos definir nossa atuação. A Abraço está elaborando suas reivindicações em encontros Brasil afora para daí então, junto com a CUT, intervir de forma unitária na Confecom. Se não for dessa forma, com priorização da unidade dos movimentos sociais, vamos ficar atirando um para cada lado e seremos derrotadas pelos barões da mídia”, alertou Sóter.