Além de promover formação e experimentação em Cultura Digital, a proposta TEIA Digital – programação integrada a TEIA Nacional – também fomentou o debate sobre a Cultura Digital em rodas de conversa.
A Ação Cultura Digital nasceu dentro do programa Cultura Viva em 2004, como uma ação transversal dentro do Ministério da Cultura para fortalecer e potencializar as redes virtuais e presenciais entre os Pontos de Cultura. “Até então, as políticas públicas para a área eram sob a perspectiva da inclusão digital, agora essa visão mudou para um conceito mais amplo” lembra José Murilo Junior, Gerente de Cultura Digital do MinC.
Para alcançar estes objetivos, uma equipe de agentes percorreu o país realizando oficinas e Encontros de Conhecimentos Livres de instalação e capacitação para uso do Kit Multimídia distribuído aos 100 primeiros Pontos de Cultura conveniados com o governo federal.
“O Software Livre foi a base do sistema filosófico da Ação Cultura Digital, que dialogava com o programa Cultura Viva pela ligação com a tradição oral” explica Caetano Ruas, da Secretaria da Economia Criativa do MinC.
Com a expansão do Programa Cultura Viva que em 2007 passou a estabelecer redes de Pontos de Cultura municipais e estaduais, não apenas federais, surgiram os Pontões de Cultura com o objetivo de articular e divulgar as ações dessas redes. Entre os Pontões, alguns foram criados especificamente para estimular a cultura digital nos pontos de cultura, como o Pontão Ganesha, Kuai Tema, JuntaDados e Nós Digitais.
Um dos resultados de toda esta articulação pode ser visto hoje com a criação de cadeiras específicas para a Cultura Digital em alguns Conselhos Municipais de Cultura, como o de Florianópolis e o de Criciúma, em Santa Catarina.
Paralelamente ao trabalho dos Pontões de Cultura Digital, foi lançado em 2009 um edital de bolsistas para reforçar a Ação Cultura Digital. Desde então, as políticas públicas dedicadas ao setor vinham de forma mais pontual pelo MinC através do lançamento do Edital Cultura Digital em 2010, da realização do Fórum da Cultura Digital Brasileira e da manutenção dos Pontões que restaram dos últimos editais.
Esta situação começou a mudar em meados de 2013, com o lançamento do Laboratório de Cultura Digital (Lab), projeto realizado em parceria da Universidade Federal do Paraná e Coletivo Soylocoporti para a formulação e desenvolvimento colaborativo de tecnologias digitais livres e de comunicação compartilhada. A experiência abriu novas possibilidades de criação de outros LABs pelo país.
A TEIA Digital foi realizada dentro deste contexto, durante a TEIA Nacional da Diversidade, dos dias 19 a 24 de maio em Natal (RN).
Além de promover formação e experimentação em Cultura Digital aos participantes do encontro nacional dos Pontos de Cultura, a proposta TEIA Digital também era fomentar o debate sobre a Cultura Digital em rodas de conversa. Entre as rodas, foi debatida especificamente a Ação Cultura Digital, que assim como o Programa Cultura Viva, completou 10 anos.
“A proposta é mapear ações e redes não só ligadas a Cultura Viva, mas também todos os agentes da Cultura Digital no país”, explica Josiane Ribeiro, do MinC, sobre o encontro da Rede de Laboratórios de Cultura Digital – Rede LABs, proposta de continuidade da Ação Cultura Digital em parceria com universidades federais. A proposta da Rede LABs é também promover a experimentação entre os produtores de tecnologia e os artistas. “Sinto falta da presença de mais técnicos nestas reuniões para discutir política para a Cultura Digital. Muitas estratégias seriam melhor delineadas com a presença deles”, ressalta Tatiane Gonzaga, do Pontão Ganesha.
Cultura Digital 10 anos
Entre as principais questões debatidas nos encontros estava a apropriação de ferramentas com Software Livre pelos Pontos de Cultura no país. A descontinuidade e mudança de estratégias durante as reformulações da Ação Cultura Digital ao longo dos anos afetou a formação e suporte, tanto dos Pontos de Cultura antigos, quanto dos novos projetos vinculados a redes estaduais e municipais. “Hoje não temos nem 50% dos Pontos de Cultura usando Software Livre”, alerta Daniel Marostegan, do Pontão Nós Digitais, sobre umas das principais metas da Ação quando ela foi criada: a difusão de ferramentas livres entre os produtores culturais indepentes para que tenham mais autonomia e protagonismo tecnológico. “A ideia não é formar jovem para o mercado de trabalho, é criar mercado para o jovem”, lembra Pedro Jatobá, do Pontão ITeia, que conclui “não é só ensinar Gimp para o jovem. É ensinar o que fazer com o software para viver”.
“Um dos grandes gargalos da Cultura Digital no Programa Cultura Viva foi a distribuição dos Kits Multimídia” relata Eduardo Lima, da Produtora Cultural Colaborativa. “Em compensação, o grande legado do Cultura Viva é a formação das redes”, pondera Eduardo.
Rachel Bragatto, do Coletivo Soylocoporti cita a recente aprovação do Marco Civil da Internet como uma grande contribuição política que o fomento da Cultura Digital trouxe ao país. “Essa conquista não tem só ligação com a Cultura Digital, mas esse espaço, esse espaço que a gestão Lula permitiu, contribuiu para uma grande conquista no campo do direito à comunicação que precisa ser valorizada”, declara Rachel.
Inae Batistoni, do Instituto Lidas questiona a necessidade de se tratar a Cultura Digital como área específica “a cultura digital deve ser entendida como meio e não como fim, sou militante da Cultura Digital enquanto meio de transformação social, de um projeto politico”.
Jonas Carneiro, do GAM – Galpão de Artes de Marabá – e novo membro do GT Cultura Digital da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura (CNPdC), encerrou a TEIA Digital com uma declaração motivadora aos demais participantes: “Se a Cultura Digital chegou em minha região, na Amazônia, foi por causa do trabalho de todos os envolvidos com a Ação Cultura Digital”.
Saiba mais sobre a Cultura Digital: http://culturadigital.br/movimento/biblioteca/
Texto e fotos: Thiago Skárnio e Ingrid Bezerra / Cobertura Colaborativa – #TEIAdaDiversidade