Imagine um laboratório para você pôr em prática ideias e projetos, onde se compartilhe conhecimentos e o foco não seja necessariamente a construção de algo comercializável. Com programação fixa de atividades, porém aberto à utilização criativa do ambiente e do tempo, conforme os interesses dos frequentadores que montam, desmontam e transformam velhos aparelhos eletrônicos em máquinas inéditas. Esta é uma descrição resumida das possibilidades de um Hackerspace e engana-se quem pensa que esse tipo de espaço reúne apenas entendidos em eletrônica e programação.
Em Florianópolis, o Tarrafa Hacker Clube está completando dois anos. A localização é o pavilhinho do bloco da Arquitetura na UFSC, sala com o número 42 na porta (referência ao Mochileiro das Galáxias). Começou sem local fixo para os encontros dos participantes e foi crescendo em palestras e eventos promovidos pela turma, como a Noite de Engenharia Reversa e Desconstrução (NERD) realizada na casa de Ramiro Polla, um dos coordenadores. “Nós só tivemos o espaço um tempo depois, mas o pessoal já se reunia antes”, diz Ramiro. “Até por isso optamos chamá-lo de Hacker Clube, em vez de Hackerspace. O laboratório na arquitetura da UFSC tem pouco mais de um ano. Entramos lá em outubro de 2012. Parece mãe contando idade de bebê, eu sei”, brinca.
O Tarrafa HC é o reduto manezinho favorito de mentes criativas e experimentadores de técnicas DIY, do inglês “do it yourself” , em português “faça você mesmo”, os também chamados makers. O termo maker significa autor, criador, e pode ser empregado na substituição do termo hacker, utilizado muitas vezes para designar invasores mal intencionados de softwares de computador. É um equívoco considerar que todos os hackers utilizam os conhecimentos para atos criminosos. Gilberto Gil, cantor e ex ministro da cultura, declarou em entrevista durante a gestão no ministério: “Trabalho inspirado pela ética hacker. Uma ética de doação permanente da capacidade e do trabalho para o diálogo enriquecedor com todas as outras formas de linguagem. Uma ética de criação coletiva, de solidariedade”.
João Ricardo Lázaro, um dos guardiões da chave do Tarrafa, defensor da agricultura urbana, da autonomia alimentar e da tintura de jenipapo. |
Sensor de presença, ao lado da maquininha de café. |
Da engenharia reversa ao corte e costura
Na agenda semanal do Hacker Clube florianopolitano constam atividades de corte e costura, programação em softwares livres, engenharia reversa, arduíno e há planos de reservar um dia para a criação de stêncil e estamparia de roupas. “Nosso objetivo é aproximar as pessoas da tecnologia ou de algum projeto que elas queiram executar, o Tarrafa sempre teve essa proposta. Ninguém precisa vir pra cá exclusivamente para fazer o que está programado para aquele momento. Por exemplo, o Piteco está ali agora costurando”, explica Maykon Chagas, participante do coletivo. Lucas Luedels Espírito Santo, o Piteco, é desenhista e, no momento em que conversamos com Maykon, recarrega o carretel interno de uma das máquinas de costura.
Como outros hackerspaces, o Tarrafa Hacker Clube é mantido por associados, interessados e quem quiser chegar.
Há um sensor de presença na porta da sala que muda o status no tarrafa.net/wiki sempre que tem alguém no espaço.
Para discussões e atualização da agenda de atividades semanais, além de reuniões periódicas, o Tarrafa mantém um grupo de emails e uma fanpage no Facebook.
Stêncils com referências ao inventor Nikola Tesla e ao movimento feminista. |
Ramiro Polla e Thiago Skárnio, ações de cultura digital em Florianópolis. |
Maratona Cultural
O Tarrafa Hacker Clube foi convidado a realizar um Hackathon no Espaço Cultura Digital da Maratona Cultural de Florianópolis.
Hackathon é um evento que reúne programadores, designers e outros profissionais ligados ao desenvolvimento de software que atenda a um fim específico. Transporte Público, Transparência, Qualidade de Vida e Cultura, são alguns temas propostos para o desenvolvimento de aplicativos.
A Virada Digital será realizada nos dias 22 e 23 de Março no Museu da Escola Catarinense.
A participação é livre e gratuita.