“O melhor lugar do mundo é no Odomodê”

 
Começou como uma banda, lá em 1974, formada por jovens músicos negros dispostos a valorizar sua cultura e o livre direito de expressão. A banda, criada para tocar no festival de músicas da escola em Porto Alegre, contava também com cinco dançarinos, três homens e duas mulheres, todos negros. Em seguida ganhou força e cresceu. Os festivais se expandiram, mas os componentes permaneceram convictos de seus ideais. De banda à Escola de Samba, de Escola de Samba à Instituição Cultural. Hoje, com 35 anos de trabalhos árduos, o Instituto Cultural Afro-Sul Odomodê, mantém o ritmo, o compasso e as atividades bem vivas.

No decorrer dos anos, as experiências foram muitas, agregou técnicas e aproximou o projeto da comunidade negra da periferia porto-alegrense. Em 1998, depois assumir a direção da escola de samba gaúcha ‘Garotos da Orgia’, conhecida por seus enredos baseados na cultura afro-brasileira, o grupo percebeu a necessidade de um trabalho social com base nessa cultura. A partir daí, a escola deixou de preocupar-se apenas com a competição e assim se tornou a Sociedade de Ação Social, Recreativa, Beneficente, Cultural e Bloco Afro Odomodê (Raiz Afro-Gaúcha).

 

Atualmente, o instituto atende mais de 50 crianças em situação de vulnerabilidade social, através oficinas de música, dança, hip-hop, capoeira, educação ambiental, recreação e reforço pedagógico. Além disso, proporciona às famílias das crianças um espaço de convivência social, cultural e educacional, estimulando debates sobre questões sociais. De acordo com Coordenador de projetos, Paulo Sérgio Barbosa, as atividades desenvolvidas no Afro-Sul Odomodê possibilitam uma maior interação entre a comunidade, assim como o reconhecimento e a distribuição da identidade através das gerações. “Pelo ponto de cultura estar inserido em meio à comunidade existe a facilidade de se consolidar o tripé ponto de cultura, comunidade e escola e, junto com a Ação Griô, dar voz aos mais velhos da comunidade, estimulando um contato de gerações que em algum momento perderam esse link”, afirma Barbosa.

 

Há cinco anos dedicando-se ao Afro-Sul Odomodê, a secretária Carla Souza, comenta que, o que a levou a entrar para o grupo foi o comprometimento da entidade com as ações sociais. “Depois de entrar no bloco, vi que a proposta aqui era bem diferente, que se tratava mesmo de um projeto de cunho social, preocupado com a questão racial e com preservação da cultura negra. Aí eu quis participar” comenta. Ela, que atuou durante 4 anos como voluntária, hoje é contratada do projeto.

 

Barbosa também lembra da importância de preocupar-se com a educação e formação das crianças e adolescentes que fazem parte do projeto. “Os pontos de cultura devem, cada vez mais, se aproximar da educação. Como dizia Paulo Freire, sem cultura não há educação, e essa pode ser uma forma dos pontos buscarem sustentabilidade através de parcerias com redes municipais, estaduais e privadas de educação” analisa.

 

Os maiores entusiastas dessa interação entre educação e cultura são os jovens que participam do projeto. Quem acompanha os ensaios e apresentações pode comprovar a satisfação dos jovens ao assistir o grupo de percussionistas e cantores adaptarem um trecho da música da banda Ananawe, e cantar “Onde é que fica o melhor lugar do mundo ê? Se você não souber eu vou dizer: o melhor lugar do mundo é no Odomodê”. A referência é frequente nas apresentações do grupo de pequenos músicos.

 

Os projetos desenvolvidos pelo Afro-Sul são viabilizados através de diversas parcerias. Uma delas, estabelecida com o Programa Cultura Viva (do Ministério da Cultura- MINC), reúne o Ponto de Cultura Odomodê, o Pontinho de Ludicidade e uma Ação Griô. Outra, firmada com a Faculdade do Vale do Sinos (UNISINOS), auxília no desenvolvimento do curso de formação em Produtores e Músicos de Rock. Além dessas, o grupo possui também o programa “Arte é Educação”, que abrange o “Projeto Escola de Música Odomodê”, fruto do apoio do Instituto HSBC Solidariedade, e o “Projeto de Extensão Conexões dos Saberes”, resultado  da parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.Outro projeto desenvolvido é o programa Família Integrada, que juntamente com o Projeto Eu Mulher, proporciona o fortalecimento da identidade feminina e a auto-eco-organização.

 

Para comemorar o aniversário de 35 anos do grupo Afro-Sul Odomodê e os 10 anos do bloco Afro Odomodê, a Sociedade promove um desfile no dia 1º de novembro, na Usina do Gazômetro, a partir das 14h00. A comemoração prossegue com a realização  do 1º Encontro de Dança de Dança Afro-Sul, que acontece de 13 a 15 de novembro, em Porto Alegre. Confira a agenda logo abaixo

 

 

Programação

13/11/2009 

16h: Inicio do Credenciamento
 19h: Abertura- Apresentação da proposta do evento
 19h30min: Seminário: ”SUSTENTABILIDADE A PARTIR DA QUALIFICAÇÃO” 
 

14/11/2009 

08h: Credenciamento
08h30min: Oficina: ”ELABORAÇÃO DE FIGURINO E ADEREÇOS’’
10h: Coffee Break
10h30min: Oficina: EXPRESSÃO CORPORAL
12h: INTERVALO 
14h: Seminário: “O TEATRO NO CONTEXTO COREOGRÁFICO”
15h: Coffee Break
15h30min: Seminário: “O PAPEL SÓCIO-EDUCATIVO DA DANÇA E DA MÚSICA”
17h30min: Encerramento
19h: Apresentações Artísticas

15/11/2009

08h30min: Seminário: ’’ A CONTRIBUIÇÃO DA DANÇA AFRO NA EFETIVAÇÃO DA LEI 10.639/03”
10h: Coffee Break
10h30min: Retorno ao Seminário
12h: INTERVALO
14h: Oficina: CONSTRUÇÃO COREOGRÁFICA E O CONTEXTO MUSICAL
16h30min: Encaminhamento
17h: Confraternização
 
 
 
Por Fabiane Berlese
Jornalista do Pontão Ganesha.