Na captação de recursos, detalhes fazem a diferença

“A captação de recursos é, de certa maneira, um jogo de sedução. Quando você tem em mãos um projeto cultural, vai ter que seduzir uma empresa, e para isso precisa descobrir onde é que está o coração de quem você deseja conquistar”. 

Essa foi uma das primeiras colocações do jornalista, poeta e escritor Marcelo Miguel, da Quixote Art & Eventos, na noite do dia 17 (terça-feira), durante o bate-papo inicial do primeiro dia do curso de Captação de Recursos para Projetos Culturais. O encontro acontece na sede da Elase, em Florianópolis, e reúne cerca de 25 representantes de Pontos de Cultura, ativistas e produtores culturais.

A proposta é esmiuçar os detalhes que cercam o processo de idealização, planejamento e execução de um projeto, com foco na etapa de captação de recursos, uma etapa que pode dificultar e até inviabilizar a realização das atividades. Para isso, entretanto, é indispensável compreender os princípios básicos da economia da cultura, incluídas aí as diversas formas de se buscar recursos para viabilização de projetos culturais.

Marcelo chamou a atenção para a necessidade de se valorizar os trabalhos desenvolvidos no campo cultural, o que ele classificou como o primeiro grande desafio ao se fazer projetos para a área. “As pessoas não têm noção da serventia da arte e da cultura, e na maioria das vezes não conseguem perceber o que está por detrás desse tipo de empreendimento. A mudança deve começar a partir de nós mesmos, que precisamos aprender a valorizar nosso trabalho. Para isso, é necessário saber como nos posicionarmos frente às demais pessoas, exigindo respeito e ao mesmo tempo tratando as pessoas que trabalham conosco com respeito”, comentou. Para ele, os trabalhos desenvolvidos na área da cultura são de extrema importância para o desenvolvimento da sociedade. Para reforçar suas colocações, usou como exemplo algumas Organizações não Governamentais (ONGs) que trabalhavam com ações sociais, e que foram buscar na arte e na cultura a fundamentação para suas realizações e para promover a transformação social.
 
INCENTIVO GOVERNAMENTAL
Para demonstrar o leque de possibilidades que se descortinam quando buscamos apoio para desenvolver projetos, Marcelo explicou que no Brasil existem, atualmente, 368 leis de incentivo à cultura, entre disposições federais, estaduais e municipais.
Em âmbito federal, a mais conhecida é a Lei Rouanet, que criou o Programa Nacional de Cultura (Pronac). Através de alguns mecanismos o Pronac oferece a pessoas físicas e jurídicas a possibilidade de isenção fiscal.
E foram justamente os detalhes da Lei Rouanet que geraram a maior parte dos questionamentos que surgiram no decorrer das aulas. Quem pode apresentar um projeto? Que tipos de projetos podem ser apresentados? Qual o valor máximo para a aprovação de um projeto? Quem pode patrocinar um projeto cultural? As questões surgiam, eram respondidas e acabavam motivando novas perguntas.

Na verdade, ficou claro que o tema é extremamente amplo, e pequenos detalhes podem fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso de um projeto. Marcelo Miguel chamou a atenção para o fato de que cada proposta tem um diferencial, e a exemplo do que acontece no jogo de sedução citado no início do encontro, cada proponente apresenta uma forma diferenciada de agir. “O importante é que você tenha a noção exata do seu projeto, e tenha pleno domínio dos argumentos que fundamentam a ideia”, explicou.

Na tarde de quinta-feira (dia 19), Marcelo participará de um bate-papo sobre prestação de contas. O encontro acontece na sala Harry Laus, na Biblioteca da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e o tema chama muita atenção, principalmente dos representantes de pontos de cultura.

À noite acontece o último encontro do curso, com dinâmicas voltadas especificamente ao processo de captação dos recursos através da Lei Rouanet.