CUT realiza debates para a Conferência Nacional de Comunicação

 A Pré-Conferência Regional Sul de Comunicação começou na manhã da última quarta-feira, 13 de maio, com as palestras do doutor em psicologia Pedro Guareschi e do professor de comunicação radiofônica e coordenador executivo da rede Abraço. Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária, José Sóter. Mais de cinquenta pessoas, entre dirigentes sindicais, assessores de comunicação, militantes de movimentos sociais, e representantes de transmissoras comunitárias, todos dos três estados da Região Sul, participaram do encontro, que foi até o dia 15 de maio, na Escola Sul, em Florianópolis.

O propósito do evento foi formular uma estratégia coletiva para intervir no processo da 1ª Conferência Nacional de Comunicação, Confecom, com debates sobre os temas da agenda do setor de políticas públicas para a comunicação e o papel da CUT e do movimento social no processo da Conferência.

Guareschi começou sua exposição despertando a reflexão do público presente. “Da dominação do saber nascem todas as outras dominações. Daí a importância da Confecom, de se propor a  democratizar os meios de comunicação e o conhecimento. Há mais de dez anos debatemos a necessidade de realizá-la, e quase não saiu, porque não interessa aos donos da mídia”, ressalta.

Ele ainda analisou as mudanças comportamentais da sociedade contemporânea. “Kant dizia que o tempo, espaço e distância era a priore do ser humano. Atualmente isso mudou. O tempo é o agora, a realidade é o agora, o ontem não interessa mais. Há um novo sentido de público e privado. Público é onde existe o olho grande da mídia, e o privado é aquilo que não é midiado. E a mídia só transmite aquilo que lhe interessa, sobretudo no que se refere a valores econômicos e controle de opinião pública, mas as principais pautas e agendas são ocultadas. A Conferência que tem se dar conta do que tudo isso acarreta. Tem gente gerando lucro, em detrimento do interesse coletivo”.

Já José Sóter chamou a atenção para a priorização da comunicação como instrumento fundamental para a conquista da hegemonia. “Temos grandes entidades, com recursos, que não investem em comunicação. Há que se ter clareza que para democratizar os meios é preciso conteúdo de qualidade, e isso não se dá de graça, necessita investimento. Caso contrário, perderemos a guerra da comunicação”. O coordenador da Abraço disse ainda ser fundamental utilizarmos os meios de comunicação que temos para mobilizar todos os movimentos sociais, organizados ou não, para debater a comunicação e intervir na Conferência. “É na Confecom que vamos falar de qual sistema de comunicação queremos para a sociedade que almejamos”.

No período da tarde, a reunião continuou com exposições de Bernardo Kucinski, professor da USP, e José Torves, diretor da Federação Nacional dos Jornalistas, Fenaj. Kucinski abriu a palestra criticando a falta de lógica de manter uma estrutura de jornal impresso na Era da Comunicação Digital. Apesar de assumir ser um leitor de jornal pelo hábito, ele condena o veículo tanto no sentido infromativo, já que traz a informação atrasada, passando pelos aspectos mercadológicos, com uma complexa lojística de produção e distribuição, até a questão ecológica, com o desperdício diário de papel. Por esse motivo, acredita que os jornais impressos estão cada vez mais ideológicos, trazendo menos informações factuais e mais análises, comentários e previsões. 

Criticou, ainda, a ética jornalista e aponta os próprios profissionais como culpados de se tornarem reféns de seus empregadores pela falta de coragem de assumir uma posição ideológica dentro das redações. Lamenta, também, a posição da FENAJ ao defender o diploma: ‘Isso é um equívoco’.

Como sugestão de tema para a Conferência Nacional, enumera:
– O recadastramento das concessões públicas;
– O cumprimento da lei, impedindo que deputados e senadores tenham concessões de rádio e tv;
– Colocar o CADE para fiscalizar os monopólios de distribuição;
– Que advogados gerais da União abram processos contra os monopólios;
– Que os Correios também façam distribuição de revistas como forma de combater monopólios de distribuição;
– Que os governos municipais, estaduais e federal não usem verba pública para se promover em propagandas em rádio, revista, jornal, TV e nenhum outro meio de comunicação, a não ser que sejam campanhas para prestação de serviço.
– Que o jornalista não possa ser demitido por motivos ideológicos

Já José Torves acredita que o problema está na formação do jornalista. “Precisaos discutir a qualidade de ensino. A solução não é tirar o sofá da sala, é fechar faculdades de jornalismo”, analisa. Sugere que o sindicato dos jornalistas funcione como o Conselho Regional de Engenheiros e Arquitetos, CREA, e punir aqueles que não cumprem o código de ética com expulsão do sindicato.

Para o conferência, sugere:
– Discussão de uma política de informação para a universalização do acesso gratuito;
– Derrubada da Lei Azeredo
– Canais comunitários e TV Legislativa para a TV aberta;
– Abrir mais canais com a TV digital e não permitir que as demais concessões fiquem nas mãos das atuais redes;
– Pulverizar a verba pública de anúncios, com a inclusão da mídia alternativa e rádio comunitárias
– Discutir a implantação da Rádio Digital no Brasil.

Colaborou: Davi Macedo, CUT/PR