Cultura e Sustentabilidade, rumo à Rio+20

Pensar a cultura como componente estruturante da sustentabilidade foi o ponto de partida do seminário “Cultura e Sustentabilidade, Rumo à Rio+20”, última atividade planejada pelo Ministério da Cultura (MinC) na programação paralela ao Fórum Social Temático – FST 2012, que aconteceu em janeiro, em Porto Alegre.
O seminário aconteceu no domingo, 29 de janeiro, na Casa Mário Quintana, e mais do que promover a discussão sobre a real ligação entre cultura e sustentabilidade, serviu como uma preparação para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável  – a Rio+20 -, que acontece em junho, no Rio de Janeiro.
 
Durante todo o dia, representantes do MinC, gestores e comunidade cultural estabeleceram diálogos que buscaram  destacar a importância da cultura na busca pelo desenvolvimento sustentável, e também lançar luz sobre conceitos de sustentabilidade e ações que podem conduzir esse processo, “especialmente no momento em que se buscam caminhos para as políticas inclusivas de cultura”, como destacou o secretário-executivo do MinC, Vitor Ortiz..
Ortiz foi o condutor da primeira mesa do seminário – “A cultura como pilar estratégico da sustentabilidade” -, e em sua fala destacou a importância de se discutir o papel estratégico das políticas públicas de cultura, colocando-as no mesmo patamar de relevância que as demais áreas. “É um equívoco histórico tratar as políticas públicas de forma isolada. Não podemos falar de uma política cultural, uma política de habitação, uma política urbana, uma política de saúde… Enquanto a cultura não estiver presente em todas as políticas públicas, ela será uma política de governo, isolada, e, portanto, mais frágil”, explicou.
Reforçando essa ideia, Luiz Philippe Torelly, assessor especial da presidência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico nacional (IPHAN), falou a respeito dos desafios relacionados ao desenvolvimento sustentável, encarado por alguns segmentos meramente como crescimento econômico. Isso, segundo afirma, acontece porque o conceito de sustentabilidade se vulgarizou. “Nao pode ter confusão entre sustentabilidade e sustentação. Um patrimônio que eu tenha, pode ter sustentação, mas só vai ser sustentável se gerar empregos, se as pessoas souberem do que se trata”.

Torelly lembrou que há várias esferas envolvidas nesse processo de sustentabilidade (distribuição de rendas, preservação ambiental e, sobretudo, o compromisso com as futuras gerações), a maioria ainda influenciada por um comportamento capitalista que defende a crença de que o desenvolvimento é perpétuo. “É uma crença falsa, e isso fica cada vez mais claro à medida em que a crise internacional se agrava e atinge não apenas empresas, mas a chamada divida soberana dos países”, afirmou.
Para ele, o combate à pobreza e à assimetria social e econômica norte-sul são o eixo central de qualquer discussão sobre desenvolvimento sustentável. “Enquanto isso não for feito, ficaremos no nível do discurso, como temos estado desde a primeira convenção de Estocolmo, em 1972”, completou.
Uma outra preocupação foi destacada pelo Delegado de Cultura da Câmara Municipal de Barcelona, Jordi Martí. Segundo afirmou, é necessário entender a cultura como elemento de desenvolvimento econômico, e há fatores preocupantes a se considerar.
“As desigualdades entre o 1º e 3º mundo diminuíram, mas a desigualdade econômica dentro dos países aumentou”, salientou, destacando que nesse sentido os movimentos sociais são importantes, mas “a parte preocupante é que associam o estado ao capitalismo e ao inimigo”.
 Durante sua fala, Jordi fez uma relação dos que ele considera os principais movimentos culturais em comum no mundo, com destaque para os movimentos das periferias urbanas, os movimentos digitais, que tratam de questões como os direitos do autor e crative commons.  Nesses casos, é priorizado o resgate de elementos da cultura popular  e proposto um paradigma do colaborativo, uma nova ética, vinculada ao momento econômico em que vivemos.
 
Mudança de valores
Os diversos tópicos que envolvem a relação Cultura X  Desenvolvimento Sutentável foram abordados também pelo secretário adjunto da Cultura do Rio Grande do Sul, Jéferson Assumção, que chamou atenção para a cultura como elemento de qualificação do desenvolvimento econômico e social. Para Assumção, o setor cultural está cada vez mais representativo e a sociedade mais participativa. Mesmo assim, destacou que a cultura como forma de sustento ainda é privilégio de poucos e isso precisa ser ampliado. “O modelo  desejável é aquele que quer fortalecer a sociedade do conhecimento, da educação, da informação, da troca de experiências culturais. A questão da cultura tem surgido como um vetor importante, também, no processo conscientizador e anticonsumista. Mas não podemos apenas ter obrigações; precisamos de investimento”, defendeu.

Nesse sentido, o secretário destacou a necessidade de se estimular novos comportamentos, tanto por parte da sociedade quanto dos governos e do mercado. “É preciso investir mais em cultura, desenvolver políticas nas mais diferentes esferas e alertar ao mercado que são necessárias outras formas de empreendedorismo que levem em conta os potenciais do setor criativo”.

Rio+20
Reforçando a proposta de se chegar à Conferência das Nações Unidas com uma posição consensual dos países do Mercosul em relação à cultura e sustentabilidade, Assumção lembrou que está programada para abril, em São Paulo, uma reunião ampliada, que além de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, incluirá Chile, Venezuela, Colômbia, Equador e Peru, na qual os ministérios da cultura da região devem formalizar uma opinião regional conjunta sobre o tema.

“É um desejo da presidenta Dilma que haja um consenso regional em todas as áreas, então, estamos perseguindo isso também na Cultura. Não temos dissenso. Ao contrário, temos muitos consensos”, comemorou.

De acordo com Assumção, durante a Rio+ 20 o MinC contará com dois espaços no Galpão da Cidadania e no Armazém do cais do porto, ambos abertos a manifestações culturais diversas. “Nossa ideia é reunir debatedores, conferencistas e artistas, garantindo que na Rio+20 a questão da cultura não seja um tópico decorativo”, finalizou.

O seminário prosseguiu com as mesas sobre “O pontenSocial da Cultura”, “A dimensão econômica do desenvolvimento cultural” e “Diversidade e Sustentabilidade”.


Leia mais:
http://www.cultura.gov.br/site/2012/01/29/cultura-e-sustentabilidade-4/
http://www.cultura.gov.br/site/2012/01/30/cultura-e-sustentabilidade-5/

 

O Pontão Ganesha participa da Cobertura Colaborativa Especial Ciranda III FML (Link http://www.ciranda.net/mot/forum-midia-livre)
Texto: Thiago Skárnio e LuZuê | Fotos: Thiago Skárnio